Cistite
Intersticial (Sindrome da Bexiga Dolorosa)
Cistite
intersticial, síndrome da bexiga dolorosa e síndrome da
frequência-urgência-disúria são termos usados
para descrever pacientes como os mesmos sintomas clínicos. Cistite
intersticial (CI) é uma inflamação crônica
da bexiga, geralmente muito intensa e dolorosa, cuja causa é
desconhecida e que acomete principalmente mulheres com idade de 20 a
60 anos.
Os
sintomas mais comuns são:
- Frequência - urinar a toda hora
- Urgência - ter uma vontade abrupta e intensa de urinar
- Dor abdominal ou na região perineal ? que inclui a região
genital e perianal
Os
pacientes podem também apresentar dores ás relações
sexuais. Pacientes com CI raramente apresentam infecção
urinária nos exames de urina. Infelizmente, não há
um método definitivo para a confirmação do diagnóstico
de CI. O diagnóstico é feito baseado nos sintomas, exame
cistoscópico da bexiga sob anestesia (endoscopia para avaliar
o interior da bexiga) e exclusão de outras doenças urológicas
que possam causar sintomas semelhantes. Em muitos casos a biópsia
da bexiga é útil, mas por vezes não é conclusiva.
Entre os pacientes com CI pode haver uma grande variação
em termos de intensidade de sintomas. Alguns podem apresentar sintomas
leves intercalados com períodos sem qualquer alteração.
Outros alternam períodos de sintomas intensos com períodos
de sintomas leves a moderados. Nos casos mais severos, os sintomas podem
ser intensos durante a maior parte do tempo.
A causa da cistite intersticial não é conhecida. Múltiplas
alterações são capazes de gerar os sintomas observados
em pacientes com CI e, portanto, não podemos olhar para esta
condição clínica como uma doença única,
mas como uma síndrome que pode ser causada por diferentes motivos
em cada paciente.
Abaixo descrevemos algumas das teorias mais atuais das possíveis
causas da CI:
Infecção
Os sintomas iniciais da CI geralmente são iguais aos de uma cistite
simples. Acredita-se que alguns tipos de microorganismos poderiam iniciar
alterações no sistema imune que passaria a atacar a bexiga
levando aos sintomas da CI.
Ativação
dos mastócitos
Mastócitos são células que participam do sistema
imune do organismo e de diversas reações do tipo alérgica
através da liberação de substâncias que causam
uma reação inflamatória. São frequentemente
encontrados em alta concentração na bexiga de pacientes
com CI. Acredita-se que sua ativação por algum fator desconhecido
possa ser uma possível causa da CI em alguns pacientes.
Aumento
da permeabilidade da bexiga
A bexiga é revestida internamente por uma camada de células
recoberta por açúcares e proteínas. Esta camada
impede a penetração de substâncias tóxicas
contidas na urina. Alguns estudos demonstraram que pacientes com CI
podem ter defeitos na camada de revestimento, permitindo a passagem
de substâncias que levarão aos sintomas da doença.
Anormalidades
da composição da urina
Especula-se que alguma substância diferente pode ser eliminada
na urina de alguns pacientes com CI, levando a uma reação
alérgica ou imune na bexiga que determina os sintomas.
Mecanismos
originados do sistema nervoso
Pesquisas recentes indicam que os nervos que transmitem a sensibilidade
da bexiga podem estar envolvidos na gênese da doença. Especula-se
que possam sofrer algum processo inflamatório, determinando os
sintomas de dor e sensação de enchimento vesical constante.
A
CISTITE INTERSTICIAL É PROGRESSIVA?
Esta
é uma das questões mais frequentes dos pacientes com cistite
intersticial. Entretanto, a resposta para isto não é simples.
Em muitos pacientes a cistite intersticial progride rapidamente para
um estágio intenso e assim permanece por vários anos sem
mudanças. Em outros, os sintomas podem progredir lentamente.
Estudos epidemiológicos realizados nos Estados Unidos demonstraram
os seguintes achados sobre a cistite intersticial:
-É muito mais frequente em mulheres do que em homens;
-
A maioria das pacientes inicia os sintomas de CI aos 40 anos, sendo
que 25% dos pacientes têm menos de 30 anos de idade no início
dos sintomas;
-É
incomum haver progressão significativa dos sintomas após
ter passado um longo período com sintomas leves a moderados.
-
Até 50% das pacientes apresentam melhora espontânea por
períodos de 1 a 80 meses mesmo sem tratamento;
-
Problemas vesicais na infância são mais comuns na história
clínica de pacientes com CI do que em indivíduos normais
(às vezes os sintomas se originaram na infância, embora
mais fracos)
-
Infecções urinárias são mais comuns na história
clínica de pacientes com CI do que em indivíduos normais,
mas geralmente são poucos episódios (raramente são
vários episódios por anos, comprovados pelo exame de urina).
-
50% das pacientes com CI têm dor quando andam de carro.
- 63% das pacientes com CI são incapazes de trabalhar em período
integral.
-
A qualidade de vida de pacientes com CI é pior do que a de pacientes
com insuficiência renal necessitando diálise.
-
O grau de escolaridade, estado civil e número de parceiros é
semelhante ao da população geral.
Importante:
OUTRAS DOENÇAS QUE PODEM DAR SINTOMAS SEMELHANTES AOS DA CISTITE
INTERSTICIAL
Os
sintomas da CI podem estar presentes em outras patologias, de tal forma
que a CI pode ser confundida com muitas doenças que afetam a
bexiga. Entre elas destacam-se a bexiga hiperativa (mulheres e homens),
as infecções bacterianas (cistite simples ou complicada)
os divertículos uretrais e vulvovaginites (em mulheres), as inflamações
e infecções da próstata (prostatites), obstrução
vesical (em homens), tumores de bexiga, cálculos vesicais ou
ureterais, Tuberculose vesical e outras cistites específicas.
Tratamento
da Cistite Intersticial
Devido ser de origem desconhecida o tratamento é inespecífico
variando de paciente para paciente. No geral a grande maioria se beneficiará
de alguma medicação ou tratamento, apresentando períodos
de remissão e de exacerbação dos sintomas. Entre
as alternativas de tratamento mais utilizadas destacamos:
1-
Conscientização e educação dos pacientes
sobre a natureza de sua doença
Informando as alternativas de tratamento existentes e medidas gerais
que podem melhorar os sintomas como: a redução do stress,
exercícios, banhos de imersão, restrições
alimentares, combate à acidez da urina, etc.
2-
Distensão da bexiga sob anestesia
É uma das alternativas iniciais de tratamento e faz parte da
avaliação clínica das pacientes com CI. Cerca de
30 a 50% das pacientes apresentam melhora dos sintomas com este método
terapêutico. A durabilidade da melhora é variada e novas
distensões podem ser necessárias no futuro.
3- Tratamento medicamentoso
Comum na maioria dos pacientes. Uma grande variedade de medicamentos
tem sido utilizada para CI e cada indivíduo apresenta uma resposta
diferente aos mesmos. Assim, muitas vezes é necessário
experimentar mais de um remédio antes de acertar qual o ideal
(ou combinação deles) para um determinado paciente. Entre
as medicações mais empregadas destacam-se: amitriptilina,
polisulfato de pentosan, anti-colinérgicos, anti-histamínicos,
corticoesteróides, vitaminas, etc.
4- Tratamento intra-vesical
É uma importante alternativa terapêuticas para pacientes
com CI. Uma das drogas mais utilizadas com este objetivo é o
DMSO, que pode ser usado isoladamente ou em associação
com outras drogas como heparina e esteróides. O intervalo e número
de aplicações também podem variar, mas incluem
de 1 a 2 aplicações semanais por 4 a 8 semanas. Outras
drogas que vêm sendo utilizadas são a lidocaína
(anestésico), Capsaicina, ácido hialurônico e BCG.
5-
Neuromodulação
Tem sido realizada com sucesso em alguns pacientes. Pode ser feita com
estimulação elétrica periférica ou acupuntura.
6-
Cirurgias
Raramente são indicadas em pacientes com CI. Devem ser reservadas
para pacientes que já tentaram insistentemente diversas formas
de tratamento sem sucesso e que permanecem severamente afetados pela
doença. Estes pacientes representam menos do que 5% do total
de pacientes com CI. Entre as várias modalidades cirúrgicas
que já foram utilizadas para o tratamento da CI destacam-se as
cirurgias para ampliação da bexiga e as cirurgias para
sua remoção. Os resultados destes procedimentos às
vezes são frustrantes para médicos e pacientes e só
devem ser realizados como último recurso.
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